Sem sacrificar nenhuma nada | transformação Kat | #[15]
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Eles nunca irão te entender
Existem tristezas, dúvidas e desafetos que somente nós conseguimos mensurar o quanto ainda nos ferem e o quão internamente vastos são. Dividir com os outros o que realmente sentimos é de suma importância para democratizar as nossas inquietações, mas nem sempre o melhor caminho para sentir-se seguro com as próprias e turbulentas decisões. A gente deve compartilhar as insistentes angústias que nos habitam, mas mais importante do que compartilhar os nossos sentimentos com os outros, é saber quem de fato irá ouvi-los com a calmaria do coração e não com a ansiedade dos julgamentos morais.
Quando estou presente em algum evento e me disponho a ouvir algumas histórias das pessoas que ali estão, sei que sou somente um receptor e não um emissor de opiniões, por mais que elas achem que não, por mais que elas achem que realmente querem ouvir a minha opinião sobre aquela determinada situação. Ouço histórias de todos os tipos, desde agressões e assédios, até de familiares que partiram ou amores românticos que hoje vivem em uma eterna caixa postal. A verdade é que quando essas pessoas me contam as suas histórias, elas não querem ouvir uma resposta minha ou um conselho com o propósito de alívio imediato – que, honestamente, muitas vezes nem existe –, elas só querem ser ouvidas. Elas querem dizer o que sentem e que alguém as compreenda – e compreensão nem sempre é seguida de palavras. Enquanto elas contam seus os relatos, deixo as suas palavras fluírem e ganharem força na própria boca delas, me muno de carinho pela história e na magia do silêncio me expresso somente com os olhos: “pode falar, pode continuar, não se julgue, aqui você pode ser quem você quiser…”
Quando o assunto é uma dor guardada na gaveta do coração, a gente precisa manusear com cuidado, pois nem todos saberão lidar com as nossas intimidades com o respeito que elas merecem. Eles podem até ouvir, mas irão analisá-las pelas próprias experiências e não pelo contexto original da história – colocar a sua realidade como parâmetro é sempre de uma enorme injustiça. O que os outros têm a dizer sobre os nossos sentimentos poder ser único e especial, mas necessita de muita consciência compreensão. Talvez isso é o que muitos chamam de empatia.
Precisamos dizer o que sentimos e, caso necessário, nos emocionar com isso, porém dividir as nossas melancolias com quem temos certeza que não irá se preocupar com a profundidade delas é um pecado. Decidir quem merece o nosso voto de confiança ao falar sobre nós é uma escolha importante para não desacreditarmos nas pessoas como um todo. Fale, nunca deixe de falar e de se abrir, mas saiba com quem dividir as tuas verdades, pois nem todos estão honestamente interessados e merecem ouvir as histórias que teu coração quer, e tem a necessidade, de contar.
Eu não sacrificaria a minha paz para alimentar o meu ego
Existem coisas maravilhosas na vida, como ter cachorros peludos, viajar sem destino e comer doces que sujam os dedos, mas, honestamente, não acredito que exista nada melhor e mais acolhedor do que dormir com a consciência tranquila. Dormir na posição maluca que você costuma dormir, seja ela qual for, e acordar sentindo que teve uma ótima noite de sono é uma sensação impagável! Não há dinheiro, noites de sexo com pessoas que já transitaram em capas de revistas ou jatinhos adesivados com o seu nome que supram a alegria que é dormir com paz. Sim, existem pessoas que adesivam jatinhos com o próprio nome.
Tenho muitas conquistas silenciosas. Na verdade, as minhas maiores conquistas só eu sei. Elas são grandes para mim, mas pequenas para o mundo externo. É uma horta que fiz lá em casa, um sentimento que eu tinha pavor que reaparecesse e, finalmente, aprendi a lidar com ele, um mimo que consegui dar para a minha mãe de aniversário, um impulso que controlei em um momento importante da minha vida, uma parte do livro que demorei muito para terminar, mas consegui deixar do jeito que eu gostaria… são pequenas conquistas que guardo comigo e me condecoro por elas.
Acontece que tenho um apreço muito grande por ter paz e equilíbrio, por coisas simples e espontâneas, por coisas que meu dinheiro possa comprar – sem me endividar até o pescoço – , por mais simples que elas sejam. Gostar de coisas verdadeiras e suas é um grande passo para o amor próprio. Às vezes sentado na varanda da minha casa e ouvindo o barulho único da chuva, fico pensando como é bom ter saúde. Logo após filosofar sobre o fato de ter saúde, penso como é bom ter um animal de estimação, como é bom tomar sorvete de casquinha no calor; caminhar pela cidade ouvindo música; tomar um café pela manhã cedinho com direito a pão com manteiga, ovos e um café quente e feito na hora; dar um beijo escondido no estacionamento do trabalho em quem você está gostando… são coisas tão simples e que nos criam uma felicidade muita genuína.
Observo tantas pessoas presas ao material, ao estético, a vaidade, preocupados com a bandeira do cartão de crédito e com a logomarca dos sapatos, com os seguidores nas redes sociais e com o tamanho da televisão da sala de estar. Não que não possamos gastar o nosso dinheiro como bem queremos, mas talvez soe interessante nos questionar se no fundo fazemos tudo isso realmente por nós ou por mera aprovação dos outros. E um dia toda essa energia gasta em suprir as expectativas dos outros pode não devolver a autoestima e companhia sincera que você acha que comprou.
Compre o que você quiser, mas não sacrifique a sua saúde mental e financeira como se isso fosse um passo necessário para o seu bem-estar. Faça o procedimento estético que desejar, mas nunca deixe de compreender e admirar a beleza que já é sua. Coloque na internet as fotos que você quiser, mas não deixe de viver o presente, a entrega e a verdade que aquele momento pede. Faça o que lhe vier à mente, mas não deixe de pensar em quem você é, pois, eu se fosse você, não sacrificaria a minha paz para alimentar o meu ego.