Santo Agostinho, um dos maiores pensadores da história cristã.
Nascido em Tagaste, no norte da África, em 354, Agostinho viveu uma juventude brilhante, mas desordenada. Inteligente, sedento de reconhecimento, mergulhou em amores passageiros e doutrinas de ocasião. Buscava a verdade, mas se perdia nos atalhos.
Durante anos, aderiu ao maniqueísmo - seita dualista que prometia respostas fáceis para questões profundas. Ao mesmo tempo, encantava-se com a filosofia clássica e, aos poucos, aproximava-se do cristianismo.
Sua conversão foi longa, dramática, cheia de avanços e recaídas. Ele mesmo admite, nas célebres Confissões: “Dá-me a castidade e a continência, mas não agora”. A frase revela o conflito interno de quem deseja mudar, mas ainda está preso às próprias algemas. O processo culmina em um episódio decisivo: angustiado, ouviu a voz de uma criança dizendo: “Toma e lê”. Abriu as Escrituras e leu Romanos 13,13-14: “Revistamo-nos do Senhor Jesus Cristo”. A partir daquele momento, não houve mais retorno.Agostinho foi batizado por Santo Ambrósio, tornou-se bispo de Hipona e escreveu obras que moldaram o pensamento ocidental. Sua conversão não foi apenas uma mudança moral, mas uma nova maneira de viver, pensar e amar.
Uma resposta consciente à graça que o procurava desde sempre. Como ele afirmou: “Tarde te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei. Estavas dentro de mim, e eu fora, e lá fora te procurava”.
A beleza da conversão está justamente aí: Deus nunca desiste. Mesmo quando nos afastamos, Ele permanece. E espera. A conversão não é uma performance religiosa, mas um ato de humildade e confiança. É reconhecer que o caminho que trilhávamos não levava à plenitude. É admitir que precisamos de Deus, não como muleta, mas como fundamento.
Num mundo cada vez mais relativista e ruidoso, falar de conversão parece quase um desafio contracultural. Mas é um desafio necessário. A sociedade atual, muitas vezes hostil à fé e escrava de prazeres imediatos, precisa reencontrar o essencial.
Não se trata de moralismo barato nem de imposições. Trata-se de liberdade.Santo Agostinho também nos lembra que a conversão não é um ponto final. É um começo renovado. Ele dizia que, mesmo depois de convertido, precisava constantemente retornar ao Senhor.
A vida cristã é feita de recomeços. De quedas e levantes. De luta interior. De paciência com os próprios limites e confiança no amor misericordioso de Deus. É um caminho. E, como todo caminho, exige direção, esforço e esperança.
É importante lembrar, ainda, que a conversão não significa rejeitar o mundo. Ao contrário. Significa vivê-lo com outros olhos. Iluminados pela fé. O cristão convertido não foge da realidade. Atua nela com responsabilidade e caridade.
Santo Agostinho, depois de abandonar os erros, não se isolou num convento. Tornou-se bispo, pregador, educador e articulador da vida pública de sua época. A fé não o alienou. O humanizou.