O que se esconde na dark web? O lado escuro da internet

Acho que todos nós sabemos como é ser visto como alguém que não somos. Sempre me chamam de “esquisito” só porque estou sempre com meus óculos escuros.

Dito isso, tenho orgulho de quem sou, e mesmo que a vida de um homem de terno com cabeça de jegue não seja tão interessante assim, eu gosto de privacidade. Bem, quero falar sobre uma outra coisa que tem uma péssima reputação por conta de seu nome infeliz: a dark web. 

 

Como vocês sabem, trabalho com essa coisa de VPN, mas tenho que tirar o chapéu para o grande pai da privacidade na internet: essa teia escura, gosmenta e perigosa (será?)! Na verdade, há mais coisas por trás de seu nome do que os olhos podem ver. Vem comigo para um tour pessoal pela dark web.

 

O que é a dark web?

 

A dark web é uma parte da internet que só pode ser acessada com a ajuda de um software especial, que mantém o anonimato de todos. É difícil descobrir quem é quem naquela escuridão toda. E essa exclusividade e anonimato são dois grandes componentes da nossa definição de dark web (internet escura, em tradução livre).

 

Esse nome, provavelmente, é a causa de tanta confusão. “A dark web”, algumas vezes chamada casualmente de “black web” (internet negra, em tradução livre), é, na verdade, mais uma definição técnica do que um rótulo para o seu conteúdo. Pense nela como uma parte do “resto da web”.

 

Qual a diferença entre dark web e deep web?

 

A imagem do iceberg é usada com frequência para demonstrar a diferença entre sua boa e velha internet, conhecida como “a superfície da web” ou “clearnet” (internet clara, em tradução livre). Ela compõe aproximadamente 4% do total da internet. Todo o resto está na deep web.

 

 

Ok, então o que é a deep web? É todo o conteúdo submerso da internet que não pode ser encontrado diretamente com a inserção de palavras em um mecanismo de busca. Esse conteúdo mais profundo inclui coisas como informações financeiras pessoais, sites com serviços de assinatura e até mesmo banco de dados usados por algumas empresas de pesquisa grandes e charmosas.

 

A deep web é real? Claro que sim, mas apesar desse nome sinistro, ela não é tão assustadora quanto parece. A maior parte da deep web consiste em dados privados e privilegiados, que estão indisponíveis aos usuários comuns.

 

O conteúdo na deep web pode ser acessado com navegadores comuns, como o Google Chrome e o Firefox. Mas há outros lugares na rede em que as coisas não estão apenas escondidas. Na verdade, elas são completamente inacessíveis com navegadores padrão. Essa seria a dark web. É preciso utilizar formas alternativas de navegação para chegar lá.

 

Ainda comigo? Pronto para ver onde esse buraco de coelho vai levar? Explore esse território tenebroso comigo, enquanto eu seguro a sua mão.

 

Como a dark web foi criada e qual o seu tamanho hoje?

 

A dark web foi criada pouco depois do surgimento da internet original, a ARPANET, criada em 1969. Há relatos de que um dos primeiros usos dessa rede foi a venda de maconha por universitários. Que escândalo! De fato, a internet está ligada a esse tipo de coisa, mas é desnecessário dizer que essas histórias (reais ou lendas urbanas) ligadas à dark web foram ficando cada vez mais assustadoras com o passar do tempo.

 

Um estudo de 2016 descobriu mais de 205 mil páginas individuais na dark web. Esse volume é irrisório se comparado aos 1,74 bilhão de sitesexistentes na superfície da internet. Além disso, o estudo revela que, dessas páginas todas, somente 5.025 estavam ativas. Isso não parece muito, mas por outro lado, um dos sites mais notórios na dark web era um marketplace, espécie de shopping center virtual, que gerava mais de 1 bilhão de dólares em vendas até ser fechado, em 2013, pelo FBI, a polícia federal dos EUA.

 

O acesso à dark web é legal?

 

Não, o simples acesso à dark web já é completamente ilegal. Quem quiser visitá-la precisa de um navegador como o Tor, que é censurado em países que não contam com um histórico muito empolgante em privacidade, como a China. Você sabe, meu local “favorito”.

 

Tor?

 

O nome é uma sigla para The Onion Router (o roteador cebola, em tradução livre). O nome é uma metáfora para todas as diferentes camadas, ou “redes sobrepostas”, usadas para ocultar atividades online. Cada camada é um nível adicional de criptografia pela qual uma atividade de internet trafega. Mas o Tor não é a única opção quando o assunto é navegação criptografada. Você também pode usar os protocolos I2P e Freenet. Essas ferramentas são fáceis de baixar e usar, o que significa que navegação super segura não é um luxo de hackers do submundo.

 

 

Mas antes que você comece a desinstalar o Chrome, é bom saber que descascar essa cebola é um processo demorado e cheio de lágrimas. O Tor é extremamente lento por causa de todas as camadas que a informação precisa navegar para chegar ao seu destino.

 

Além disso, há relatos de que a documentação XKeyscore, vazada por Edward Snowden, revela que somente a pesquisa pelo termo Tor já colocaria um usuário na lista de suspeitos da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA). Além disso, boa parte do financiamento do Tor surgiu justamente do governo norte-americano. Sim, quando o assunto é privacidade extrema, as ironias estão por todos os lugares. Quer dizer que agora estou sendo vigiado por mais uma agência? Há algum limite de vigilância para um jegue? De qualquer forma, dá para dizer que quanto mais pessoas usarem navegadores privados, mais eles se tornarão a norma do mercado, o que diminuirá as chances de uma pessoa (ou um jegue) se tornar objeto de interesse para o FBI. 

 

Mas calma, vamos deixar uma coisa clara: o uso do Tor não significa que você está na dark web. O Tor é somente uma ferramenta de navegação anônima. Ele pode ser usado simplesmente para checar e-mails, mas também para acessar a dark web.

 

Para que serve a dark web?

 

As implicações da dark web são extremamente importantes para a segurança cibernética. Se você tiver interesse mínimo em privacidade na internet - o que, ao que parece, é como viver em uma redoma de vidro - então você deveria se interessar por navegadores seguros e, claro, pela dark web.

 

O que há na dark web? Qualquer coisa, do mesmo jeito que qualquer coisa pode ser colocada em uma casa ou em um cofre. É por isso que o nome dark web é problemático. Você não diria que uma pessoa comum, com um grande volume de dados privados, tem uma “casa escura” ou um “cofre escuro”. Em última instância, não há nada inerentemente maligno na dark web. Ela é simplesmente uma parte mais isolada da internet.

 

Mas é lá que se faz compras ilegais de drogas e “otras cositas más”, certo? 

 

Essas coisas também estão lá.

 

Por que não disse isso antes?

 

Porque é isso o que a maioria das pessoas que escreve sobre a dark web faz, até mesmo quando tentam veementemente explicar que a dark web vai muito além da venda ilegal de drogas. Claro que isso chama muito a atenção das pessoas, mas a coisa vai muito além disso.

 

Então o que mais acontece na dark web?

 

Não é preciso ser um pervertido para perceber que, moralmente, a dark web contém cerca de 50,54 tons de cinza. Vamos ver por que a dark web é um assunto tão polarizado.

 

Se por um lado as pessoas com algum conhecimento tecnológico já sabiam que, na década passada, empresas como o Facebook se aproveitaram desenfreadamente de dados pessoais, audiências recentes no Congresso dos EUA alertaram o público geral de que a segurança cibernética precisa mudar. Se instintivamente a dark web tem sido demonizada, isso se deve, talvez, por ela contornar a péssimo status quo da segurança e privacidade da web, que é imensamente lucrativa para as maiores corporações.

 

A possibilidade de se criar mercados alternativos para usar criptomoedas de uma forma difícil de rastrear é só um exemplo de como a dark web escapa da ordem atual das coisas. Se você já usa um navegador como o Tor, que oculta seu endereço IP, e ainda usa moeda digital criptografada, como o bitcoin ou o ethereum, bem, então você está bem escondido.

 

Qualquer um que acompanhe o Avance Network sabe o quanto gosto de reforçar que muitos governantes adoram controlar o fluxo de informação. Assim como uma VPN, o Tor e a dark web permitem que pessoas vivendo nesses países escapem da censura. Esse é outro estágio na luta contra a vigilância ostensiva de governos e empresas, que observam cada movimento das pessoas na internet. A dark web e navegadores anônimos têm sido usados por dissidentes de governos opressores, pessoas que denunciam fatos ilícitos para jornalistas e defensores em geral da liberdade de expressão. Por exemplo, ao se comunicarem com Edward Snowden sobre o caso de fraude da NSA, o jornalista Glenn Greenwald e a cinegrafista Laura Poitras usaram o navegador Tor e o sistema operacional Tails, que mantém a privacidade, o anonimato e a segurança dos usuários enquanto evitam a censura online.

 

A dark web é perigosa?

 

A privacidade da internet facilita a compra e venda de números de cartões roubados usando criptomoedas. É ali também que muitos malwares são distribuídos e comercializados. Mesmo um exemplar do gênero Equus, como eu, fica atormentado quando alguém se aproveita da sua privacidade para interferir na privacidade de outros.

 

Mas aqui, estou tentando apenas desmistificar a parte “dark” da internet, sem querer enaltecê-la de forma equivocada. Assim, é bom ficar sabendo que os grandes abusos presentes na dark web, como pornografia infantil, fraudes e discurso de ódio, também acontecem na superfície. E só para constar, sabe-se que o controverso marketplace Silk Road ajudou a reduzir a violência nas ruas provocada pelo tráfico de drogas. 

 

E mesmo que as lojas de entorpecentes na dark web dependam de alguma interação humana, como comentários de usuários, esse não é exatamente o paraíso da honestidade que aparenta ser. Em transações mais arriscadas, a sujeira pode ficar ainda mais suja. Os infames sites de encomenda de supostos assassinatos são esquemas para roubar dinheiro de alguém ou denunciar o usuário à polícia. E mesmo os agentes da lei podem agir na dark web. Como mencionado anteriormente, o FBI conseguiu fechar o marketplace Silk Road, mesmo que isso tenha sido feito, possivelmente, por meio de uma polêmica invasão sem mandado legal. Em outro caso, o FBI apreendeu servidores e utilizou malwares para acabar com uma rede de pedofilia.

 

Mesmo que a dark web tenha essa aura sagrada de local impenetrável, a lição é que dá para fazer as coisas quando se tem vontade política, o que é muito bom, ou não. É como descobrir que seu chalé está protegido dos espiões por ter sido construído em Camp Crystal Lake, o simpático acampamento da franquia Sexta-Feira 13.

 

Então, como acessar a dark web?

 

Para acessar a dark web, você precisa de um navegador especial, como o Tor. Depois você terá que descobrir a forma de funcionamento dos endereços. Um sufixo proeminente para sites na dark web é .onion. Isso significa que apenas os navegadores Tor podem acessá-los. Assim, caso encontre uma página com essa terminação, saberá que ela está na dark web. Com o navegador e os sites certos, você está pronto para entrar em ação. Não é preciso saber muitas outras coisas sobre o funcionamento da dark web.

 

Há também sites de pesquisa exclusivos, como o NotEvil, que podem ser acessados somente com o Tor). Até mesmo o jornal New York Times tem sua própria versão .onion para a dark web. O Facebook também, apesar de que as pessoas com perfil nessa mídia social não devem estar muito preocupadas com privacidade.

 

E depois?

 

A dark web não é uma doença. Ela é uma ferramenta que deve ser apoiada e incorporada, mas não demonizada. Essa ferramenta, assim como as criptomoedas, é um outro exemplo do crescente interesse em sistemas distribuídos, como um sistema computacional que utiliza uma rede muito maior para evitar pontos únicos de falha e penetração. Isso acaba oferecendo mais segurança e privacidade aos usuários. Provavelmente esses sistemas terão um papel importante no futuro da internet.

 

E sabe o que mais? O Tor pode coexistir pacificamente com as VPNs. Na verdade, muitas pessoas defendem o uso conjunto de uma VPN e do Tor antes de acessar a dark web, já que uma VPN pode esconder o fato de alguém estar usando o Tor. Se isso parece uma obsessão neurótica por segurança, como uma camisinha por cima de outra, saiba que não é bem assim. Juntos, esses serviços não são redundantes. Na verdade, eles fortalecem um ao outro. 

 

Mas se você não estiver pronto para cair de cabeça no Tor e na dark web, ainda há ótimas opções para melhorar sua privacidade na internet. Para aqueles que preferem continuar perto da superfície da rede, uma VPN é a melhor opção.

 

 

O Avance Network é uma comunidade fácil de usar que fornece segurança de primeira e não requer muito conhecimento técnico. Com uma conta, você pode proteger sua comunicação e seus dispositivos. O Avance Network não mantém registros de seus dados; portanto, você pode ter certeza de que tudo o que sai do seu dispositivo chega ao outro lado sem inspeção.


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