O ÍCONE DA VIRGEM DE VLADIMIR

Há quase nove séculos, os orantes cristãos têm a graça de contemplar o ícone de Nossa Senhora Mãe da Ternura, cujos traços levam a localizar a origem em Constantinopla. Hoje guardada em Moscou, é o modelo de quase todos os ícones marianos. Uma imagem tão bela, tão fascinante, que a tradição aprecia atribuí-la ao evangelista Lucas, pois ninguém poderia pintar um ícone tão belo se não tivesse recebido de Deus a graça única de contemplar o rosto da Mãe de Deus. Ninguém a conheceria tão filialmente como o Evangelista que dela escutou a narração da Anunciação, da Natividade, da Morte, da Ressurreição, da Ascensão.

Na verdade, o ícone é obra da Igreja, não invenção de pintores, pois eles da Igreja recebem o conteúdo e a disposição das figuras. Sua qualidade não provém da habilidade do artista, mas da vida espiritual dele: após 30 dias de jejum a pão, sal e água, oração contínua, dá a primeira pincelada, sempre na cor branca, indicando a luz que a partir daquele momento penetra na obra. Durante a pintura e no início de cada dia, ele faz o Sinal de Cruz e perdoa os inimigos, porque o ícone é portador de paz. A palavra ícone é bem traduzida como “sou semelhante”, referindo-se ao mistério que se contempla. Não se deveria dizer “esse é um ícone da Mãe de Deus” e sim, “eu sou a Mãe de Deus”.A Virgem da Ternura de Vladimir é contemplada somente por quem pede a Luz a fim de contemplar seu mistério. Se não for para a contemplação, o ícone será apenas uma pintura para “ver, visitar, olhar, analisar”, uma profanação. A Theotokos (Mãe de Deus) de Vladimir é tão poderosa que um homem que a odiava profundamente, Josef Stalin, quando teve medo que o exército alemão conquistasse Moscou, em 1941, ordenou que o ícone fosse colocado num avião e sobrevoasse Moscou durante o perigo. Dias depois, a nação russa estava livre da invasão. Depois, a Mãe da Ternura aceitou continuar rejeitada e guardada num museu, onde ela pode contemplar os milhões de visitantes que se detém diante de seu olhar.

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