Mãe do Belo Amor, a devoção mariana mais antiga do Vale do Cariri

A imagem da Mãe do Belo Amor, pequena escultura de madeira, medindo cerca de 40 centímetros, é venerada, desde os primórdios da Missão do Miranda – origem da cidade de Crato – que data de 1740, ou seja, há cerca de 275 anos. Esta estátua sempre foi aureolada por muitos fatos pitorescos e lendários. Monsenhor Rubens Gondim Lóssio, escrevendo sobre esta representação da Virgem Maria, em trabalho publicado na revista Itaytera, afirmou: “Herdada dos ancestrais indígenas, existia uma pequena imagem da assim chamada Nossa Senhora do Belo Amor, de todos venerada”.

Não existem documentos sobre a origem da imagem da Mãe do Belo Amor. Também não se sabe, ao certo, se essa pequena escultura já se encontrava no Sul do Ceará, antes de 1740, ano da chegada de Frei Carlos Maria de Ferrara, para catequizar os índios Cariris, quando fundou a Missão do Miranda (depois Vila do Brejo do Miranda), embrião da cidade do Crato. Ressalte-se que, antes da chegada desse frade, já tinha o Vale do Cariri certa densidade demográfica, embora não possuísse ainda nenhum aldeamento ou povoado considerável, o que só veio a se formar após 1740. Daí ser possível que a imagem da Mãe do Belo Amor já se encontrasse no Vale do Cariri, antes da vinda do fundador do Crato.Presume-se, pois, que até 1745 esta pequena imagem da Mãe do Belo Amor, foi venerada na humilde capela de taipa, coberta de palha, construída por Frei Carlos – substituindo Nossa Senhora da Penha, Padroeira da Missão do Miranda – isto é, até a chegada da imagem da Virgem da Penha que se destinava à Guiné, na África e foi trazida de Recife, em 1641, transferida para Crato em 1745, onde é venerada até os dias atuais.


Nossa Senhora do Belo AmorEgo mater pulchrae diIectionis”— “Eu sou a Mãe do Belo Amor”.
Esta expressão, tirada do livro do Eclesiástico (24. 241), é usada pela Liturgia católica para honrar um dos mais gloriosos apanágios da Santíssima Virgem.
Com efeito, esta título evoca, de um lado, a plenitude o a beleza do amar que Nossa Senhora tem a Deus e, de modo mais especifico, à Segunda Pessoa da Santíssima Trindade Encarnada, que é o Filho d’Ela. De outro lado, assinala a formosura que para a alma de Maria advém desse amor, fonte de esplendor moral que rejubila o mundo inteiro.
Nunca houve, e jamais haverá em toda a história da criação, um amor a Deus tão belo, tão perfeito e tão ardoroso quanto o que teve Nossa Senhora, desde o primeiro instante de seu ser.
Se considerarmos o amor a Deus que têm os Anjos, e o que brilhou nas almas dos grandes Santos — por exemplo, o amor zeloso, combativo, ágil, de Santo Inácio de Loyola; o amor embevecido, cheio de ternura e de ardor, de São Francisco de Assis; o amor contemplativo, feito de pensamento e de meditação, de São Bento; e a amor eloquente, inflamado, de São Bernardo — se, pois, considerarmos todos esses amores, podemos concluir que:
Primeiro, Nossa Senhora possuiu todas as modalidades de amor a Deus que houve e haverá, até o fim de mundo, no Céu e sobre a terra, nos Anjos e nas almas mais santas;
Segundo, Ela excedeu a cada um desses Anjos e Santos, de modo incalculável, na forma específica de amor a Deus que os distinguiram;E em terceiro lugar, a soma da caridade de todos os Anjos e de todos os Santos reunidos não tem proporção alguma com a sublime caridade de Nossa Senhora, que reina acima de todo o conjunto das criaturas.
Por essas conclusões podemos ter uma vaga ideia de inexcedível amor quo Maria devota a Deus, e da insondável beleza que tal amor confere à alma d’Ela. E podemos, também, compreender como, nesta terra, só há uma coisa digna de ser comparada a Nossa Senhora: é a Santa Igreja Católica Apostólica Romana.
De fato, enquanto Corpo Místico de Cristo, a Igreja Católica é um escrínio que encerra a totalidade das graças desses amores. Ela é, em si mesma, a conjunção e a convergência de todos eles; é o manancial do qual defluem todos esses amores reunidos.Ademais, podemos dizer que, de algum modo, a Senta Igreja Católica — abstração feita dos homens tão carentes que por vezes a representam — é uma união de todas as virtudes, consideradas nos seus graus mais elevados.
Ora, em Maria Santíssima também encontramos, a outro título a de diversa maneira, a conjunção de todas as virtudes que há em todos os homens, levadas ao auge mais excelso que se possa imaginar. Além disso, somadas umas às outras a fim de constituírem um inconcebível conjunto de beleza, de esplendor, de grandeza e de bondade afável e materna.
Enfim, Nossa Senhora é, sozinha, a corte inteira de Deus. Todo o resto é secundário. Ela é a Rainha da prudência, e Rainha do conselho, a Virgem cheia de graça. Ela é a Mãe do Belo Amor.

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