Arqueólogos descobrem civilização sob a selva amazônica que construiu estradas há 2.500 anos
Mapeamento a laser descobriu cinco grandes cidades e 10 assentamentos menores escondidos sob a selva amazônica
GABRIELLE TAVARES
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FLORIANÓPOLIS
28/01/2025A rede de túneis, com largura entre 1 e 2,60 metros e altura média de 1,60 metros, apresenta paredes de pedra esculpidas e estruturas que sugerem o uso por nobres incas em liteiras. Dividida em três ramificações principais, a Chinkana reflete um planejamento estratégico notável, possivelmente projetado como uma representação subterrânea da cidade na superfície.
Arqueólogos planejam realizar escavações na área
A validação das antigas crônicas foi possibilitada por métodos tecnológicos avançados, como radar de penetração no solo e testes acústicos. Esses recursos permitiram mapear a estrutura do labirinto com precisão. No entanto, os arqueólogos ainda aguardam autorização do Ministério da Cultura do Peru para realizar escavações físicas, previstas para começar em março ou abril.
A importância dessa descoberta transcende a engenharia inca. Ela reaviva mitos antigos, fornece novas perspectivas sobre a civilização e reforça Cusco como um dos centros arqueológicos mais relevantes do mundo. Futuras explorações prometem revelar ainda mais segredos sobre o legado inca, ampliando nosso conhecimento sobre sua cultura, planejamento urbano e conquistas arquitetônicas.Pesquisadores descobriram uma rede de cidades interconectadas escondida sob a densa floresta do Vale Upano, no Equador, que remonta a mais de 2.500 anos. A civilização antiga, agora considerada a mais complexa da Amazônia, foi revelada por meio da tecnologia de mapeamento a laser, chamada LiDAR.A descoberta, publicada na revista Science, destaca que, por muito tempo, arqueólogos acreditavam que a floresta amazônica havia sido um território inóspito, habitado por pequenos grupos de caçadores-coletores.
No entanto, o avanço das pesquisas, especialmente com o uso do LiDAR, revelou a existência de sociedades organizadas e urbanizadas. Para o arqueólogo da agência de pesquisa CNRS da França (Centro Nacional de Pesquisa Científica), Stéphen Rostain, que liderou escavações no Vale Upano por quase três décadas, a nova tecnologia foi revolucionária.Eu sabia que tínhamos muitos montes, muitas estruturas, mas não tinha uma visão geral completa da região”, destacou.
Redescobrindo a civilização antiga amazônica
Os dados de mapeamento a laser, coletados em 2015 pelo Instituto Nacional do Patrimônio Cultural do Equador, descobriram cinco grandes cidades e 10 assentamentos menores, ocupando cerca de 300 km².
Essas cidades, densamente povoadas, possuíam estruturas residenciais, cerimoniais e uma extensa rede de estradas largas e retas que interligavam os assentamentos.Estamos falando de urbanismo”, destaca Fernando Mejía, arqueólogo da Pontifícia Universidade Católica do Equador e coautor do estudo.
A centralidade dessas cidades é impressionante: Kilamope, por exemplo, abrange uma área comparável ao Planalto de Gizé, no Egito, e à avenida principal de Teotihuacan, no México.
Segundo Rostain, as modificações na paisagem, incluindo terraços agrícolas e campos retangulares para cultivo de milho, mandioca e batata-doce, rivalizam com as “cidades-jardim” dos maias clássicos.
“Cada dia era Natal, com um novo presente”, diz Rostain ao descrever as revelações diárias realizadas pelo LiDAR.
Várias ‘Amazônias’
A pesquisa também sugere que as cidades do Vale Upano, além de serem anteriores a outras civilizações amazônicas complexas, como os Llanos de Mojos, na Bolívia, eram mais densamente povoadas e interconectadas.Dizemos ‘Amazônia’, mas deveríamos dizer ‘Amazônias’ para capturar a diversidade cultural da região”, explica Rostain.
Embora as descobertas sejam significativas, arqueólogos como Thomas Garrison, da Universidade do Texas em Austin, ressaltam que é cedo para compará-las a civilizações como os maias e Teotihuacan, que eram “muito mais complexas e extensas”, mas não subestima a relevância da pesquisa.
“É incrível que ainda possamos fazer esses tipos de descobertas em nosso planeta e encontrar novas culturas complexas no século XXI”, apontou.
O impacto do LiDAR na arqueologia amazônica
O uso do LiDAR está transformando o estudo de civilizações antigas na Amazônia, permitindo que arqueólogos vejam através da densa cobertura florestal para reconstruir o que antes estava escondido.
“O lidar está revolucionando nossa compreensão da Amazônia em tempos pré-colombianos”, destacou a arqueóloga da Universidade de Bonn, Carla Jaimes Betancourt.
Essa nova perspectiva sobre a civilização antiga do Vale Upano é apenas o começo. Mejía reforça que as descobertas no Equador são “a ponta do iceberg” do que pode ser revelado em toda a Amazônia, uma região ainda cheia de mistérios e histórias enterradas.
